Burla - usam a doença da criança

No concelho de Paredes, têm-se repetido episódios de burlas, nos últimos meses. Em causa estão pessoas que usam a doença rara de uma menina de Lordelo para fazerem peditórios e venderem terços. Os pais de Cláudia, cuja medula óssea foi transplantada há dois meses, dizem-se chocados e já apresentaram uma queixa no Ministério Público.
“Isto é triste. Fizemos uma campanha digna e a única coisa que pedimos foi dadores para o transplante de medula. Depois, aparecem pessoas que se aproveitam da situação”, foi assim que o pai de Cláudia – que não se quis identificar – comentou o uso do nome da menina de dois anos e meio para fins ilícitos.
O caso foi descoberto por mero acaso. Uma familiar foi confrontada com o testemunho de uma pessoa que havia acabado de comprar um terço, alegadamente, para ajudar a angariar fundos para uma operação inexistente.
O facto repetiu-se por mais duas vezes, ambas na cidade de Paredes. Desta vez, não houve venda de qualquer artigo, mas simples peditório. Nessa altura, estas histórias chegaram aos ouvidos da família natural de Lordelo e a decisão foi imediata: avançar com uma queixa contra incertos.
“O objectivo é clarificar a situação e alertar as pessoas para não darem dinheiro para isso. Por causa da campanha da recolha de sangue, o nome da Cláudia ficou bem presente nas pessoas, que têm sensibilidade e pensam que estão a ajudar”, explica o pai. Mas, as campanhas públicas de apoio à Cláudia nunca tiveram um carácter pecuniário e a família quer demarcar-se destes acontecimentos.
Recorde-se que, nos últimos meses de 2008 sucederam-se as iniciativas para recolher o maior número de amostras de sangue possível. Os pais da Cláudia avançaram para essa solução antes de saber o resultado do Centro de Histocompatibilidade, uma vez que não havia tempo a perder. “Quando foi diagnosticado o problema da Cláudia, procuramos, de imediato, todas as soluções que podíamos, porque nenhuma possibilidade seria de descurar”, conta.

Cláudia encontrou dador compatível no estrangeiro
Entretanto, a notícia por que os pais de Cláudia tanto ansiavam acabou por surgir na semana de Natal do ano passado. O Banco Internacional de dadores encontrou um cordão umbilical compatível e a cirurgia de transplante de medula óssea deu-se no dia dois de Fevereiro e recebeu o cordão umbilical vindo directamente dos EUA.
A doença rara que afecta a menina, que entretanto perdeu algumas funções motoras, está agora a ser combatida, num processo de aceitação do transplante que durará até cerca de um ano, após a saída do bloco operatório.

Sobre as campanhas de angariação de amostras de sangue, não esquece o incentivo que foi feito “às pessoas que saíram do sofá para serem dadores. O Norte dá bem o exemplo, sendo a região com o maior número de inscritos”. Exemplo disso foram as 1400 recolhas realizadas na campanha. “Um número que, sem os enfermeiros voluntários, seria impossível de alcançar”, reconhece o pai de Cláudia.

in jornal Fórum vale do Sousa