sábado, 21 de agosto de 2010

Praia...

Supostamente, era mais uma sexta-feira de intenso calor. A proposta de a viver passava por um areal junto à água salgada, em que esta mesma água, banha inúmeras vezes parte da areia dourada.
Junto à fronteira do liquido e do sólido adivinhava-se, para breve, um intenso nevoeiro. Por minutos ainda tenta-se descansar os ossos e esquecer o dia-a-dia numa toalha macia.
Algumas horas depois, aquele dia que parecia ser igual a muitos outros, surge do mar longínquo uma poderosa onda carinhosamente gélida e suavemente áspera. Ao mesmo tempo, brota um nevoeiro intensamente obscuro. O vento, esse, sussurrava junto aos ouvidos palavras que farpavam a alma sem o ópio que poderia acalmar essa dor.
O entardecer aproximava-se. As frieza daquela tarde solidificaram qualquer possível demonstração de existência do saco lacrimal.
O mar mostrava-se pacifico e belo como nunca... uma pacificidade e beleza cruel.
Melhores marés virão...

1 comentário:

  1. AMigo Voluntario, depois de ler isto, e de imaginar a cena, não posso deixar de te deixar aqui um texto fabuloso do grande poeta Vinicio de Morais. Espero que gostes (MDC):

    Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
    A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
    E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
    Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
    A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
    Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
    E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
    Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
    Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
    Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
    A gente não faz amigos, reconhece-os.

    VINICIUS DE MORAIS

    ResponderEliminar