O facto de trabalharmos com pessoas mais velhas, e quando estas são doutoradas na universidade da vida, há poucas conversas, todavia recheadas de muito assunto. Relembro-me de uma situação aquando dos cuidados e de higiene com uma senhora. A certa altura diz ela: "Porque é que fazemos tanto na vida, lutamos tanto pelas coisas e depois perdemos a dignidade assim? Porque lutamos tanto para ter as coisas se agora não as posso gozar e aqui estou eu!?"
Por instantes, a inexperiência ingénua conduziu-me a pensar de estaria a expor a pessoa: cortinas mal fechadas, pessoa destapada, falar alto, etc… O ambiente físico era apropriado. Inquieto com a expressão “perda de dignidade” questionei: "O que a leva a dizer que perdeu a dignidade?
“Digo que perdi a dignidade porque poucas pessoas aqui chegam com palavras de atenção, força e carinho... poucas as pessoas que aqui vêm com voz amiga! Flores...? Secam e murcham e vão para o lixo... as palavras doces, guardo-as cá até morrer e enquanto sou lúcida...!!!"
Perante tal argumentação calorosa… secou a fonte das palavras de quem, por vezes, pensa que há palavras que reconfortem. Falei durante alguns segundos em silêncio, enquanto fugiam algumas gotas da barragem lacrimejal.
Tais sábias palavras não me foram indiferentes. Tantas vezes trabalhamos como não houvesse amanhã, juntamos dinheiros para casa, viagens, um carro, uma vida melhor... em nova esta senhora tinha muitos amigos, ou melhor conhecidos! Ajudava os vizinhos e deu tudo o que podia aos filhos e netos. Algum dia recebeu um “obrigada”? Não. O objectivo desta Mulher, ao trabalhar toda a vida e ajudar os outros, era receber um simples e sincero “obrigada”. Estar ao lado dela quando ela precisasse. Ouvi-la, rir um pouco… curriquices para uns… tesouros para outro. Não houve, nem há bens materiais que equiparem a um sincero obrigado.
Gosto muito.
ResponderEliminarFantástico texto!
ResponderEliminarParabéns!
Continua a postar mensagens desta enorme qualidade.